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Sobre a adoção. Parte 1. Adoção como benção. Os filhos de José. por Bianca Bonassi Ribeiro


Ao contrário dos outros artigos, que tratam de temas isolados, a proposta desse estudo é compor uma série sequencial em torno do mesmo tema – adoção. Em primeiro lugar, preciso manifestar minha gratidão a Deus, que primeiro abriu meus olhos para entender a grandeza da adoção e permitir que Luciano e eu adotássemos Pedro (11) e Vitor (10), quando ainda eram bebês. Também agradeço a dois mestres da Palavra de Deus, Dr. Davi Merkh[1] e Ms. Alexandre Chiaradia Mendes (Sacha)[2], por pacientemente revisar e comentar esse estudo.

Acredito que Deus, é o Professor Perfeito, que em sua grande misericórdia utiliza diversos elementos simbólicos para facilitar o nosso aprendizado de verdades espirituais. A Palavra de Deus utiliza o símbolo do corpo para explicar como funciona e se compõe a Igreja de Cristo Jesus, o casamento entre homem e mulher, como símbolo do relacionamento de Cristo e a Igreja. Na Bíblia, também encontramos o símbolo paternal, que dá sentido a nossa relação de filiação a Deus, por meio de Jesus Cristo. Desta mesma forma, Deus usa o valor simbólico da adoção para nos ensinar a profundidade, a imensidão do amor altruísta de Deus pela humanidade. Interessante notar também, que o Professor Perfeito, nos revela ao longo da sua Palavra alguns casos de adoção e como cada um deles, a seu tempo, revela o caráter misericordioso de Deus.

Vale ressaltar que o processo de adoção se estabelece de acordo com as leis e regras vigentes em cada época. Porém, o cerne da adoção é sempre o mesmo, firmar uma relação de filiação entre adotante e adotado, onde cada parte possui direitos e responsabilidades. Atualmente, a adoção é um processo ou ação judicial que legitima o acolhimento voluntário de uma pessoa, em geral uma criança ou adolescente, sob a condição de filho(a), com todos os direitos e responsabilidades inerentes a essa relação de filiação. O adotante (pais), de forma voluntária admite e aceita outra pessoa como filho(a). Esse é um processo irrevogável, ou seja, não pode ser desfeito.

Com base nesse panorama inicial, enxergamos a primeira história de adoção relatada na Bíblia, cujo enfoque é demostrar que adoção é uma benção. No livro de Gênesis, depois da queda de Adão e Eva, Deus começa um plano de redenção da humanidade. Para tanto, Deus escolhe um homem (Abraão) a quem prometeu que por meio da descendência dele todas as nações da terra seriam abençoadas (Gn. 22.18). De Abraão nasceu Isaque e depois de alguns anos Isaque teve dois filhos gêmeos (Esaú e Jacó). A história continua e Deus escolheu Jacó para ser o pai de uma nação especial (Israel), de onde viria o Messias (Jesus Cristo), centenas de anos depois, para salvar a humanidade de seus pecados, a partir de sua morte e ressurreição. Esse pano de fundo é importante, porque dá sentido à adoção como benção.

Mas, voltemos um pouco o olhar para Jacó, esse homem escolhido por Deus, teve 12 filhos biológicos homens, dentre eles José, que era o décimo primeiro filho. O trecho de Gênesis 37.3 apresenta que Jacó amava mais a José do que qualquer outro filho “porque lhe havia nascido em sua velhice”. Por essa razão os irmãos de José o odiavam e “não conseguiam falar com ele amigavelmente” (Gn. 37.4). No decorrer da história, os irmãos de José decidem vende-lo como escravo e mentir ao pai Jacó dizendo que José havia sido morto. Assim, José foi levado ao Egito, onde permaneceu por muitos anos e passou por muitas dificuldades (Gn. 37-40). Depois de um longo período de lutas, José, encontrou o favor do Faraó e por misericórdia de Deus, ele se tornou o governador do Egito. O Faraó do Egito, deu a José uma esposa e com ela José teve dois filhos, Manassés e Efraim. E, somente depois disso é que o reencontro entre José e Jacó, seu pai, ocorreu no Egito.

Antes desse reencontro, que culminou com a adoção de Manassés e Efraim, por Jacó. Vale ressaltar alguns pontos importantes, em especial na paternidade de Jacó, o adotante.

O aprendizado de Jacó – alerta aos pais!

Um árduo processo de aprendizado se desenvolveu, na vida de Jacó (Israel). No momento que ele presume que perdeu seu filho José, o texto bíblico nos mostra um sentimento de dor extrema e uma recusa em ser consolado, conforme Gênesis 37. 34-35:

Então Jacó rasgou suas vestes, vestiu-se de pano de saco e chorou muitos dias por seu filho. Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas ele recusou ser consolado, dizendo: “Não! Chorando descerei à sepultura para junto de meu filho.” E continuou a chorar por ele (grifo meu).

Não se pode minimizar a dor de Jacó, entretanto, essa dor inconsolável nos faz pensar até que ponto José não tinha se tornado a “pessoa (ídolo)” mais importante na vida de Jacó. O afastamento físico do filho preferido de Jacó (Israel) o fez retomar o foco e voltar sua adoração para a “Pessoa (Deus)” mais importante na vida dele. Jacó, precisou aprender a agir como seu avô Abraão que não negou a Deus, seu filho Isaque. Esse desprendimento marcou uma aliança e foi prometido fazer de Abraão uma benção para todos os povos da terra (Gn. 17. 19; Gn. 22. 2-18) e Jacó era parte dessa aliança.

Os nossos filhos, por mais que os amemos, não devem se tornar pequenos deuses em nossas vidas, porque eles nos foram dados por Deus. Essa consciência e atitude deve existir tanto na vida de pais biológicos quanto na vida de pais adotivos. Talvez você pense que seus filhos não são pequenos deuses, mas as atitudes em relação a eles demostram o contrário. Quando nos recusamos a criar nossos filhos de acordo com as instruções dadas na Palavra de Deus, estamos endeusando nossos pequenos, porque os consideramos acima de Deus. Ao tolerarmos o pecado deles com afirmações: “mas é só uma criança”, “ele(a) tem uma personalidade muito forte”, “não consigo dominá-lo(a)”, não estamos ensinando-os a olhar para a cruz de Cristo.

Antes de Jacó compreender que Deus precisa estar acima de tudo e todos, ele também endeusou seus filhos. Primeiro pela preferência de José sobre os demais, a ponto de não querer ser consolado por sua suposta morte. Segundo, durante o processo de criação deles foi tolerante aos erros que eles cometiam, esse comportamento idólatra gerou consequências graves:

· Diná filha de Jacó e Lia foi violentada e quem decidiu o que deveria ser feito foram os filhos e não o pai, a consequência: eles se tornam pessoas “indesejáveis” naquela região (Gn. 34. 11-17; Gn. 34. 25-30);

· O filho primogênito de Jacó, Rúben se deitou com Bila, concubina de seu pai. Logo, o leito de Jacó foi desonrado (Gn. 35. 22; Gn. 49.4). Esse ato fez com que os direitos de primogenitura (porção dobrada da herança para o filho mais velho, de acordo com Dt. 21.15-17) fossem transferidos a outro (I Cr. 5.1). O professor Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, Ph.D. em Exposição Bíblica, apresenta em seu livro, o seguinte comentário: “A relação sexual de Rúben com Bila significa sua tentativa de roubar de Jacó a autoridade sobre a família”[3].

· José foi vendido como escravo por seus irmãos para alguns ismaelitas que estavam a caminho do Egito, porque eles o odiavam (Gn. 37).

Talvez você pense que está imune ao endeusamento de seus filhos, isso porque você é um cristão que tem consciência de que os filhos foram dados por Deus, talvez você até seja atuante em uma igreja. Mas, Jacó, também era consciente de que os filhos tinham sido dados por Deus, veja o que ele disse a seu irmão Esáu: “São os filhos que Deus concedeu a teu servo” (Gn. 33.5b). Ter consciência é diferente de ter atitude! Criar filhos nos caminhos do Senhor é um processo longo, cansativo, mas prazeroso cujo resultado só é visto depois de anos. Muitas vezes, você será criticado(a), inclusive por cristãos, por estar seguindo as instruções dadas por Deus, em sua Palavra. Entretanto, devemos continuar com o foco certo.

Voltando à família de Jacó, Deus em sua infinita graça fez com que o patriarca voltasse para o foco certo, mas isso custou décadas de duras intervenções da parte de Deus. Depois de “perder dois filhos” (José porque achava que estava morto e Simeão que havia ficado preso no Egito) e correndo o risco de perder o caçula, Benjamim. Jacó finalmente declara com sinceridade: “Se tem que ser assim que seja![…]Que o Deus todo – poderoso lhes conceda misericórdia diante daquele homem, para que ele permita que o seu outro irmão e Benjamim voltem com vocês. Quanto a mim, se ficar sem filhos, sem filhos ficarei” (Gn. 43.11-14 – grifo meu). Finalmente, a mesma atitude de seu avô Abraão, única adoração a Deus!

A história continuou e Jacó (Israel) recebeu mais um presente de Deus, descobriu que todos os seus filhos estavam bem e vivos. O único e soberano Deus permitiu o reencontro de toda a família, no Egito, de acordo com Gênesis 46.1-7:

[Jacó] Israel partiu com tudo o que lhe pertencia. Ao chegar a Berseba, ofereceu sacrifícios ao Deus de Isaque, seu pai. E Deus falou a Israel por meio de uma visão noturna: Jacó! Jacó! “Eis-me aqui”, respondeu ele. “Eu sou Deus, o Deus de seu pai”, disse ele. “Não tenha medo de descer ao Egito, porque lá farei de você uma grande nação. Eu mesmo descerei ao Egito com você e certamente o trarei de volta. E a mão de José fechará os seus olhos.”

Então Jacó partiu de Berseba. Os filhos de Israel levaram seu pai, Jacó, seus filhos e as suas mulheres nas carruagens que o faraó tinha enviado. Também levaram os seus rebanhos e os bens que tinham adquirido em Canaã. Assim Jacó foi para o Egito com toda a sua descendência. Levou consigo para o Egito seus filhos, seus netos, suas filhas, suas netas, isto é, todos os seus descendentes (grifo meu).

Uma vida centrada em Deus permite que os pais tenham sabedoria até mesmo no que desejam a seus filhos. A transformação na vida de Jacó deu início a uma benção que alcança até os nossos dias. Mais ou menos 17 anos depois dos Israelitas (família de Jacó) chegarem ao Egito, Manassés e Efraim (filhos de José) receberam a seguinte benção do seu avô (Jacó):

Então disse Jacó a José: “O Deus todo-poderoso apareceu-me em Luz, na terra de Canaã, e ali me abençoou, dizendo: ‘Eu o farei prolífero e o multiplicarei. Farei de você uma comunidade de povos e darei esta terra por propriedade perpétua aos seus descendentes’. Agora, pois, os seus dois filhos que lhe nasceram no Egito, antes da minha vinda para cá, serão reconhecidos como meus; Efraim e Manassés serão meus, como são meus Rubén e Simeão” (Gn. 48. 3-5).

Israel, porém, estendeu a mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, embora este fosse o mais novo e, cruzando os braços, pôs a mão esquerda sobre a cabeça de Manassés, embora Manassés fosse o filho mais velho. E abençoou a José, dizendo: “Que o Deus a quem serviram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor em toda a minha vida até o dia de hoje, o Anjo que me redimiu de todo o mal, abençoe estes meninos. Sejam eles chamados pelo meu nome e pelos nomes de meus pais Abraão e Isaque, e cresçam muito na terra” (Gn. 48. 14-16).

Assim, Jacó os abençoou naquele dia, dizendo: “O povo de Israel usará os seus nomes para abençoar uns aos outros com esta expressão: Que Deus faça a você como fez a Efraim e a Manassés. E colocou Efraim à frente de Manassés” (Gn. 48. 20) (grifo meu).

A benção de José (filho biológico) recai sobre seus filhos Efraim e Manassés, que a partir daquele momento se tornam filhos adotivos legítimos de Jacó (Israel) por meio da adoção. Naquela época, a palavra de um homem, de um patriarca valia como lei. Isso pode ser comprovado pela própria Palavra de Deus. No livro das Crônicas, onde registra as genealogias do povo de Israel, Rúben (o primogênito de Jacó) perdeu a primogenitura que foi dada aos filhos adotivos de Jacó.

[…] Rúben, o filho mais velho de Israel. (De fato ele era o mais velho, mas, por ter desonrado o leito de seu pai, seus direitos de filho mais velho foram dados aos filhos de José, filho de Israel, de modo que não foi alistado nos registros genealógicos como o primeiro filho. Embora Judá tenha sido o mais poderoso de seus irmãos e dele tenha vindo um líder, os direitos de filho mais velho foram dados a José), conforme I Crônicas 5.1-2 (grifo meu).

De acordo com o professor Carlos Osvaldo Cardoso Pinto[4](2006), os livros de Crônicas, têm o propósito de apresentar uma visão abrangente do plano de Deus para Israel ao longo da história. Por essa razão, a inclusão de genealogias trata-se de uma lembrança da aliança feita a Abraão, ou seja, Israel sendo uma benção para o mundo. As genealogias, apresentadas nos livros de Crônicas, destacam as tribos, clãs e indivíduos que tiveram uma influência significativa na história de Israel. Ao mesmo tempo informam os que foram impedidos de se tornar canais de benção. Sendo assim, temos que a adoção de Manassés e Efraim, pelo seu avô Jacó (Israel), foi legitimada e abençoada por Deus.

A adoção e benção dada a Manassés e Efraim, por Jacó, expressam um ato de fé em Deus, como descrito em Hebreus 11.21. Essa adoção no passado, antecipou e simbolizou a benção que é a nossa adoção por meio de Cristo.

O ato da adoção, como a conhecemos, existe e foi criada por Deus para explicar a benção da adoção espiritual. Muito melhor do que ter pais e/ou filhos, a adoção tem um propósito. Ambas, adoção terrena e espiritual, são um privilégio. E, toda adoção tem início com o Adotante (Deus) estendendo sua mão em favor dos adotados. Isso é uma benção!

Bianca Bonassi Ribeiro



[1] Dr. Davi Merkh é doutor em Ministério Bíblico e professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida, também atua como pastor auxiliar de exposição bíblica na Primeira Igreja Batista de Atibaia (PIBA).


[2] Ms. Alexandre Chiaradia Mendes (Sacha) é Mestre em Aconselhamento Bíblico (The Master´s College – CA) e mestre em Divindade (Faith Bible Seminary), pastor e líder de jovens da Igreja Batista Maranata em São José dos Campos. Também atua como conselheiro associado da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos).


[3] PINTO, C.O.C. Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamento: estruturas e mensagens dos livros do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 51.


[4] PINTO, C.O.C. Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamento: estruturas e mensagens dos livros do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 359-360.




Bianca é casada com Luciano. Eles têm dois filhos, o Pedro e o Vitor. Ela faz parte da equipe docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, desde 2007 e é membro da Primeira Igreja Batista de Atibaia.

Bianca é doutora em Comunicação e Semiótica, mestre em Administração e graduada em Administração de Empresas.

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